A Terça Aberta, programa mensal da Cia Fragmento de Dança, de São Paulo, aconteceu de modo on-line nos últimos meses, com os artistas performando ao vivo, cada qual em sua casa. Agora, na edição de fevereiro de 2021, inaugura um formato híbrido: retorna ao Kasulo – Espaço de Cultura e Arte,com uma plateia ainda bastante reduzida, e transmissão simultânea dos trabalhos através de live pelo perfil do Instagram da companhia.
Serão três trabalhos solos apresentados em sequência: Preta demais pra ser branca, branca demais pra ser preta, de Bia Rezende, Impulsos Instáveis, de Jonatan Vasconcelos, ambos com base expressiva nas danças urbanas e contemporânea, e Ação para desembrutecer: A Língua é um Mapa Imenso, do performer e artista visual Pedro Athié.

Em Preta demais pra ser branca, branca demais pra ser preta, Bia Rezende denuncia as incansáveis tentativas de apagamento da negritude, no país com a maior quantidade de negros fora do continente africano, e alerta sobre a necessidade de autoconhecimento e entendimento histórico para fortalecer o sentimento de pertencimento. “Cresci ouvindo que eu era ‘preta demais pra ser branca e branca demais pra ser preta’, mas como diz Victoria Santa Cruz [poeta e ativista afro-peruana],’ um dia me gritaram: Negra! E eu respondi!’”, declara Bia Rezende. O poema interpretado na performance é de autoria de Midria, a poeta, estudante de ciências sociais na Universidade de São Paulo, criadora do Slam USPerifa e integrante do Coletivo Sarau do Vale.

Com o solo Impulsos Instáveis, Jonatan Vasconcelos busca entender os dispositivos que impulsionam o seu mover, seja intuitivo, em reação a tudo que o afeta, seja em projeção ao processo de construção do seu eu, ao perceber sua individualidade, potencialidades e modos de ver e agir no mundo. Na tentativa de se desvencilhar de uma cultura machista condicionada pelo patriarcado, reflete sobre a sua masculinidade e, por fim, procura novas possibilidades de resistir e reexistir. Thainá Souza responde pela captação de imagens.

O filósofo e ativista trans Paul B. Preciado define que “o sujeito fabricado pela pandemia no tecnopatriarcado neoliberal não tem pele, é intocável, não tem mãos…”. Com Ação para desembrutecer: A Língua é um Mapa Imenso, Pedro Athié busca atualizar seu corpo, imaginando uma instalação, em meio à multidão. Ao mesmo tempo em que, obsessivamente, organiza um atentado ao sujeito “embrutecido”, o performer se revela entre tentativas de percursos, a partir de uma confissão, e também do metal, da saliva e do fracasso.
Concluídas as três apresentações, segue uma boa conversa entre os artistas, com a participação do público e mediação da atriz Janaina Leite (Grupo XIX de Teatro) e da bailarina Vanessa Macedo (Cia Fragmento de Dança).
A proposta da Cia Fragmento de Dança, que já recebeu o prêmio Denilto Gomes e foi indicada ao APCA de Dança 2020, é acolher trabalhos de dança, teatro e performance inéditos, recém estreados ou em processo, Neste momento, conta com o apoio da Lei Aldir Blanc.
Sobre os artistas
Bailarina, professora e coreógrafa, Bia Rezende é assistente social pós-graduanda em psicologia social e antropologia. Na dança, além do Brasil, já se apresentou nos Estados Unidos, Tanzânia, Zâmbia e África do Sul, em tour com o coletivo GX International. Há sete anos ministra aulas regulares e coreografa para projetos sociais.
Jonatan Vasconcelos é artista da dança contemporânea com influências em danças urbanas, educador e instrutor de yoga. Iniciou seu desenvolvimento artístico em 2013, no Programa Vocacional da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, se formou em dança pelo Projeto Núcleo Luz-Ciclo II, e em Yoga pela Associação de Yoga Ananda Marga. Integra a Jorge Garcia Companhia de Dança, o Grua-Gentlemen de Rua, a Cia Diversidança e faz parte da direção coletiva do Núcleo Disparador, formado a partir do trabalho de conclusão de curso do Núcleo Luz.
Pedro Athié é performer e artista visual. Formado em cinema pela FAAP (2016), trabalha entre os campos do vídeo, da performance e da dança. Técnico em artes cênicas com especialização em “Corpo: Performance, Dança e Teatro”, pela Escola de Artes Célia Helena (SP), é artista colaborador do Núcleo Cinematográfico de Dança (SP) e do Teatro da Matilha (SP) e criador-gerador da ocupação artística de rua “Tesãozinho Inicial” desde 2016.
- Onde:
- Kasulo - Espaço de Cultura e Arte
- Quando:
- 9 de fevereiro/2021
Terça-feira, das 19h às 21h - Quanto:
- Grátis
- Info:
Live pelo Instagram
www.instagram.com/fragmentodedanca